domingo, 19 de junho de 2011

Chega de Mistérios!

Na manhã seguinte, acordei cedo e fui direto para a Casa de Assistência, o último endereço da Mita. Uma senhora atendeu a porta e apertou a minha mão. Foi logo perguntando o que eu desejava e dizendo não aceitarem visitantes.


O melhor era ser direto: falei o nome da menina e descrevi cada detalhe, procurando me lembrar do retrato pintado pelo meu filho. Contei sobre os pais estarem procurando por ela e nunca terem conseguido encontrar a garota. Relatei sobre a minha desconfiança de alguém ter raptado a Mita e a deixado na Casa de Assistência.


Ela confirmou, a menina foi encontrada na porta da Casa, algo muito incomum. A garota não vivia mais ali, foi transferida ao se tornar criança para uma casa só de meninas. A senhora disse gostar muito da pequena, sempre sorridente e doce, apesar de falar muito sobre os pais e sentir falta deles.


Resolveu ajudar e me deu o endereço do lugar. A duas quadras do meu apê, encontrei a casa onde a Mita deve estar morando. O lugar era muito bonito e havia algumas meninas brincando no jardim.


Toquei a campainha, tentando descobrir a melhor forma de convencer o encarregado a me levar até a menina. Quando eu vi a Brenda, mal pude acreditar! O que minha amiga estava fazendo ali? Ela não estava morando na Enseada Beladona?


Rindo, ela me abraçou e disse ter recebido uma oferta para trabalhar na Assistência Social de Bela Vista, como diretora desta Casa de Assistência. Convenceu o marido a voltar com ela para a cidade natal dos dois.


Como sempre, fiquei curioso para saber quem era seu marido e quando a Brenda me contou me surpreendi. Era o ex-namorado da Acácia: o Sérgio. Os dois foram amigos na UNESIM e se reencontraram quando estavam morando em outra cidade. Acabaram se unindo nas saudades de casa e dos amigos. Quando perceberam já estavam apaixonados, daí pro casamento foi um pulo.


Fiquei feliz por ela, todavia, meu plano era encontrar a Mita e comentei sobre a pequena. No mesmo instante, Brenda me pediu para entrar, estava ali há pouco tempo. Conhecia as meninas, mas não sabia como foram parar na instituição.


Precisava ver o histórico da garota antes e me levou até seu escritório. Observei cada detalhe, a casa parecia muito grande, arejada e bem arrumada. O lugar era agradável e feminino, pelo menos a garota estava sendo bem cuidada.


Ao me sentar falei sobre os arquivos da Mita terem sumido, provavelmente não havia nada sobre a família ou como ela foi parar nas mãos da Assistência Social. E contei sobre os pais da menina e o desespero deles para encontrá-la.


Minha amiga acreditou em mim e disse poder me levar até a pequena, mas ela não poderia sair dali comigo. Queria conversar com os pais pessoalmente. Havia uma série de documentações e trâmites a seguir.


Claro, eu desejava ver a menina, antes de falar com seus pais. Precisava ter certeza que não iria alimentar falsas esperanças. Eu saberia reconhecê-la, não tinha dúvida quanto a isso. Então, Brenda me levou até a cozinha e perguntou a uma das atendentes onde estava a Mita. A senhora indicou a porta dos fundos e disse ter visto a pequena passar por ali.


Nós entramos em um belo jardim cheio de flores e muito bem cuidado, fiquei impressionado com tudo. Minha amiga está fazendo daquela casa um verdadeiro lar para as órfãs.


Quando vi a menina sentada sobre a pedra, fiquei completamente encantado com a imagem. Tive certeza, aquela princesinha só poderia ser a Mita. Linda, exatamente como o retrato pintado pelo meu Di. O seu encanto não estava na beleza natural. Estava em seu semblante, ela parecia inspirar cuidados, meiguice, delicadeza... Uma pequena fada. Finalmente posso entender como meu filho se apaixonou tão cedo!


Eu estava ansioso por conversar com a menina, mas a Brenda foi a primeira a falar com ela: “Trouxe um amigo meu, o Forte, ele quer te conhecer.”


Mita se levantou rapidamente e me perguntou: “Você é o pai do Di?!” Nem me deu chance de responder e emendou: “Claro, parece com ele, só que tem olhos verdes! O Di falou de você e da sua esposa, a Cistal, o dia todo que passamos juntos.”


Fiquei feliz por ela se lembrar do meu filho. Deve ter sido um dia marcante na vida dos dois pequenos. Respondi a menina, afirmando ser o pai do Di e a corrigi dizendo o nome certo da Cristal. Naquela época o Diamante mal conseguia pronunciar o nome da mãe. Aquela fadinha doce me contou tudo sobre seu encontro com o pequeno, fiquei estupefato com a sua memória e eloquência


Por fim, a Mita me puxou para um abraço irresistível e falou no meu ouvido: “Tenho muitas saudades do Di, traz ele pra me ver!” Não pude deixar de comentar em retorno: “Ele também sente saudades, logo vocês vão se encontrar novamente.”


Depois de me despedir das duas, fui direto falar com os pais da Mita, eles deveriam ser os primeiros a saber sobre o meu encontro com ela. Moravam em frente a uma praia deserta, o lugar era bem agradável, a residência parecia uma casa de bonecas, a rua era muito tranquila. Cheguei a pensar em me mudar para Vila água Azul ao me aposentar.


Quando o Tato saiu, mal lhe dei tempo para me cumprimentar, fui logo falando: “Encontrei a Mita!”
Ele ficou empolgado, queria saber onde ela estava, como, com quem, todos os detalhes. Se eu estivesse no seu lugar faria todas estas perguntas e mais algumas!


Respondi a tudo com paciência, o meu interesse pelo bem-estar da menina só não era maior que o dos pais. Podia compreender sua apreensão por saber mais sobre a filha. Terminei explicando sobre a Brenda estar disposta a entregar a Mita a eles, bastava ir lá conversar com ela e assinar uns papéis.


Feliz com o desenrolar dos fatos, Tato me abraçou e convidou para entrar. Precisava dar as boas novas à esposa, pretendia ir em seguida buscar a pequena.


Lá dentro, Kira estava servindo o almoço e percebi o volume da sua barriga: Ela estava grávida! Duas bênçãos ao mesmo tempo, a filha encontrada e um bebê a caminho. Quando me viu, perguntou se eu gostaria de almoçar com eles.


Sem me dar tempo para responder, seu marido começou a contar sobre a descoberta do paradeiro da Mita. Explicou sua intenção de ir imediatamente até a Casa de Assistência conversar com a Brenda.


A mãe da menina ficou tremendamente feliz, concordou com o Tato e olhou na minha direção. Seu sorriso demonstrava o agradecimento pelo meu empenho e pela notícia extraordinária trazida por mim. Esqueceram completamente do almoço.


A campainha tocou e meu amigo se afastou, era sua mãe, Iara. Eu já a conhecia, pois cortou meu cabelo duas vezes, só não imaginava ser a mãe dele!


Quando olhou para mim a velha enlouqueceu e começou a gritar: “O que você fez com meu filho seu miserável! Onde ele está, você e aqueles idiotas da Cúpula sumiram com ele!”


Nem percebi quando a doida pulou sobre mim, me jogando no chão, com as mãos em minha garganta. Ela queria me estrangular. Berrava para todos ouvirem sobre eu ser o grande culpado pelo sumiço do seu filho e que eu pagaria por isso.


Eu me desvencilhei rapidamente, agarrei a velha por trás e a imobilizei. Então perguntei: Foi você quem ajudou o Merlim durante o duelo? Você é uma bruxa?


Iara estava realmente louca e confessou tudo. O ex-chefão estava desconfiado do Chien e o seguiu até o local do duelo. Quando o viu preparando o lugar, pediu ajuda a mãe. Foi assim que ganhou do Grão-Mestre anterior e esperava ganhar novamente.


Durante o embate, ao lançar minha primeira mágica, a velha usou um contra feitiço. No entanto, não conhecia nenhum para proteger o filho do boneco vodu e muito menos esperava minha ação rápida para prender o Merlim no círculo de cristais. Exigia saber quem havia sumido com o seu filho. Até eu me perguntei: Quem poderia ter desaparecido com o cara?


Ontem à noite me preveni, depois do sumiço do sujeito, resolvi fazer uma nova poção de bruxaria-já-era e comprei um par de algemas. Forcei a velha a tomar a poção e estava pronto para prendê-la, pouco depois da transformação. Olhei para frente e reparei nos meus amigos.


Kira e Tato trocavam olhares de incompreensão. Não deviam saber coisa alguma sobre o Merlim, suas maldades e muito menos sobre a Iara ser uma bruxa. Entretanto, eu não poderia explicar muita coisa.


A maluca se contorceu de dor sob o efeito da poção, a princípio, eu estava muito feliz por assistir seu sofrimento. Porém, lembrei do meu amigo e fiquei imaginando como eu me sentiria com a minha mãe se contorcendo de dor a minha frente. Por respeito, fechei a boca e segurei o riso.


Após a poção fazer efeito, eu a prendi com as algemas. Em minha cabeça martelava a ideia de haver muito mais por trás disso tudo. Porque um tio sabendo onde está a sobrinha, ao invés de resgatar a menina, não fala nada para ninguém e some com os arquivos dela?


Minha intuição dizia que a velha louca sabia de tudo. Embora eu não quisesse acreditar nisso... Perguntei a ela porque eles sumiram com a Mita.


Iara não se fez de rogada e começou a falar: “Aquela menina orelhuda, precisava nascer com estas orelhas indecentes? Igual ao pai, tenho vergonha de ter um filho assim. Pelo menos ele as mantém escondidas. A doidivanas da minha neta fazia questão de mostrar as orelhas para todo mundo. Tinha orgulho de ser uma aberração.”


Tato mal acreditou naquelas palavras doentias. Não só a confirmação da própria mãe ter sumido com a menina, mas também pelo preconceito em relação as suas orelhas. Porque só agora a maluca assumia seu horror pela diferença do filho?


Ela continuou a falar. Contou sobre ter combinado com o filho mais velho uma forma de sumir com a pequena. Toda manhã, eles iam nadar na praia em frente. Ela se ofereceu para tomar conta da Mita. Enquanto eles nadavam, aproveitou a distração dos pais e levou a menina até o tio.


Merlim, segundo a louca, disse que levaria a “orelhuda” para a Assistência Social e daria um jeito nos arquivos para a pequena nunca mais ser encontrada. Iara parecia ter muito orgulho do filho mais velho!


Kira estava revoltada e falou: “Por isso não me deixou ligar para a Assistência Social. Se eu ligasse nos primeiros dias, ele não teria tempo para adulterar arquivo algum. Insistiu em ficar aqui para cuidar de tudo, fingindo estar sofrendo como nós!”


A velha a interrompeu: “Pensei que você tivesse um sangue mais forte para acabar com esta aberração na minha família. Eu cometi apenas um erro na vida e ele fica me assombrando, geração após geração! O único que realmente me ajudou e conseguiu me compreender foi o Merlim. Um menino perfeito como o pai.”


Ela voltou a contar sobre ter entregado a menina para o tio e como ele a levou para longe de suas vistas entrando num táxi. Depois, soube que o filho deixou a Mita na porta de uma das Casas de Assistência.


Olhou para mim e disse:”Você foi o único a querer atrapalhar meus planos de tirar esta aberração da família. Você é culpado de tudo, Forte. Sua família vai levar o mesmo estigma e quero ver como você vai se sentir vendo seus netos com estas orelhas horrorosas.”


Eu fiquei chocado. Não tenho nenhum preconceito com as orelhas do meu amigo e de sua filha. Parecem elfos por isto. Não me incomodam nem um pouco. O Di casando com a Mita, eu me orgulharia dos meus netos, seja lá como fossem.


Havia apenas uma conclusão, a velha estava maluca mesmo! Nós estávamos estarrecidos com suas confissões. Mal nos dava tempo para avaliar a extensão da amargura carregada pela louca em seu coração.


Não satisfeita, continuou a contar sobre o Tato ser fruto de uma aventura extraconjugal. Iara, disse ter sido seduzida por um Plantasim em Colina Formosa. Acabou gerando uma aberração para pagar por seus pecados. O falecido se responsabilizou pelo menino e cuidou dele como se fosse o próprio filho. Mas se afastou da mãe, não a procurou mais para fazer oba-oba.


Meu amigo ficou arrasado. Eu nem podia imaginar como tudo devia estar sendo para ele. Tantas informações:
. Mãe e irmão raptam e somem com sua filha.
. Sua própria mãe o chama de aberração por conta das orelhas pontudas;
. Por fim, descobre ser filho de um oba-oba ilícito da Iara com um Plantasim.


Kira não perdeu tempo, depois de ouvir a confissão da sua sogra, ligou para a polícia. Era hora da velha pagar por seus crimes. Faltava achar o Merlim para colocá-lo atrás das grades também.


Iara ameaçou: “Vocês podem me prender, mas o meu querido filho vai reaparecer e me vingar. Vocês estão com seus dias contados! Ele vai cuidar de mim, nunca me faltou e não há de ser agora.”
Não me preocupei com as suas ameaças, precisava encontrar o ex-chefão logo e acabar com este problema, agora tinha motivos para colocá-lo atrás das grades.


O policial chegou a seguir e contamos a ele o crime cometido pela velha. Depois de ouvir sobre o crime, comentou que ela nunca mais veria a luz do sol novamente: sequestro é considerado crime hediondo, punido com prisão perpétua.


Ele não teve muito trabalho, ela já estava algemada, apenas a escoltou até o carro de polícia do outro lado da rua. Quando o camburão sumiu no horizonte, eu tive uma grande sensação de alívio. Só restava achar o Merlim e minhas preocupações terminariam.


Em seguida, Tato e Kira fizeram a mesma pergunta. Ambos queriam saber sobre esta história de bruxos e duelos, o que havia acontecido com o ex-chefão.


Evitei tocar no assunto da Sociedade Secreta. Afinal nunca participaram dela, nenhum dos dois sequer estudou na UNESIM. Contei apenas sobre ter desafiado o Merlim para um duelo mágico, por descobrir algumas mortes arquitetadas por ele e sobre o seu sumiço logo após o embate.


Pedi desculpas pela confusão toda e por não poder dar maiores explicações. Mesmo assim, Tato me agradeceu pela resposta, não sabia muita coisa sobre a vida dos dois parentes. E finalmente esclareceu: “Na verdade, eu tentei me aproximar dos dois, mas minha mãe e meu irmão sempre se mantiveram distantes de mim. Eu nunca entendi o motivo, até hoje. Estou triste com tudo Forte, mas agradeço a você por trazer luz a este assunto.”


Kira olhou para nós e se manifestou, dizendo nunca ter gostado da sogra e do cunhado. Agora sabia o porquê, ficava mais aliviada, não era só implicância com a família do marido. E por fim disse: “Só podemos é manter nossa pequena família coberta de amor e carinho. Para isso precisamos buscar a Mita agora, preciso estar com a minha filha!”


2 comentários:

  1. Fiquei emocionada quando você encontrou a Mita, Forte. Foi um encontro lindo... Ela também sente falta do Di! *---*
    Que mãe mais doente! Onde já se viu. Aff!
    Mas agora isso pouco importa, porque a Mita vai poder voltar para seus pais e reencontrar o Di! \õ/
    Amei de paixão essa atuh!
    Até a próxima, Forte! =*

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  2. SUh, a Mita é muito fofa, não podia ser diferente.
    A velha é totalmente desequilibrada e instável. Ainda bem que está na cadeia!
    Primeiro os pais, depois o Di...
    Obrigaduuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
    Até!

    Um Forte abraço!

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