domingo, 12 de junho de 2011

Não Tem mais Volta!

Eu havia me trocado para encontrar o Chien quando a Acácia adentrou o nosso apartamento sorrindo e de visu novo. Estava muito atrasado para o meu compromisso.


Mesmo assim, nós a convidamos para sentar. Afinal, o Olívio não consegue ficar sozinho com os gêmeos nem por 15 minutos! Então, ela explicou o motivo de sua vinda: era aniversário dos meninos no dia seguinte! Caracas, como um ano passa rápido para um sim!


Saí logo atrás da minha amiga e corri para o cemitério. Quando cheguei à nossa sala secreta, o pai do Ado já estava meditando. Assim que sentei no chão, ele saiu da meditação e me perguntou: “Você está muito agitado para meditar, aconteceu alguma coisa? Quer conversar?”


Eu realmente não compreendia como o Chien podia, com apenas um olhar, decifrar meus pensamentos. Pedi desculpas pelo atraso. Expliquei sobre a ida do diretor e da Acácia aparecer pouco antes da minha saída. Mas minha verdadeira angústia era a proximidade do duelo. Amanhã teria uma reunião da Cúpula e eu deveria desafiar o Merlin!


Meu amigo nem me deixou completar: “Forte, sabia que por ser membro da Cúpula você nem precisava chamar o diretor para colocar seu filho na escola particular? E nem quero mais ouvir sobre suas preocupações. Você está muito bem preparado para este duelo.”


Devo ter ofendido o meu mestre com minhas palavras. Não foi a minha intenção, mas me preocupo com o resultado do duelo. Tentei reverter meu estrago dizendo o quanto agradecia pela sua dedicação e paciência para me ensinar.


E recebi o maior elogio da minha vida: “Nunca foi tão fácil ensinar alguém a duelar! Parece que você nasceu para isto... Nunca vi alguém com tanto talento natural para ser bruxo e fazer feitiços.”


Em seguida, ele sugeriu um pouco de Tai Chi. Com a minha ansiedade era melhor o exercício, a meditação não ia ajudar. Chien estava certo, eu me senti muito melhor depois de completar a série de movimentos.


Treinamos vários feitiços. A cada nova mágica lançada, eu percebia o meu poder crescer exponencialmente. Ainda mais forte... Hehehe. O feitiço mais engraçado foi o meu último:
“ Espiritus Franghanius
Oh, espírito da pequena e covarde galinha
Possua este sim para que a risada seja só minha!”


Quando a mágica alcançou o pai do Ado ele ficou ciscando feito uma galinha. Parecia estar fazendo o aperto de mão da Sociedade Secreta sozinho! Foi hilário. Principalmente por ele achar graça no final, levou tudo na boa.


Meu amigo ficou muito empolgado com a minha performance desta noite e disse ter certeza da minha capacidade para ganhar de qualquer bruxo em um duelo honrado.


Eu fiquei muito surpreso com tantos elogios. Foram ótimos para acabar com a minha ansiedade, fiquei bem mais tranquilo ao ouvir todos eles. E como sou bem-educado, eu retribuí: Tudo fica mais fácil com um mestre como você!


Saímos muito tarde do Cemitério. Por isto mesmo, a noite foi bem produtiva: até escolhemos o melhor feitiço para usar contra o chefão. Amanhã, depois do aniversário dos gêmeos, vai ter a reunião e eu vou lançar meu desafio. Vai ser uma longa madrugada e um dia muito tenso... Pois quando eu chegar à casa vão ser dez da noite. Hoje eu preferia chegar de manhã!


Ao chegar, encontrei os pequenos ainda brincando, estavam me esperando. O Di é um verdadeiro arquiteto e estava todo feliz com a sua nova construção em blocos. Eu o elogiei de pronto.


A Vi ficou olhando, tentando descobrir como fazer uma igual. Ela ainda é muito nova para construir assim, mas não deixa de admirar a capacidade do seu ídolo.


Já estava na hora deles dormirem. Eu preparei minha princesinha para a cama e antes de colocá-la no berço, me disse: “Papá tá tliste! Pouquê? A Vi ti amaaa!”


Eu fico impressionado com a sensibilidade destes pequenos! Devo estar demonstrando a minha tensão com esta história do duelo. Tentei tranquilizar a minha filha, dizendo que eu a amava. Ela resistiu ao se deitar e por fim repetiu: “Amo ocê papá!”


Ao levantar a cabeça dei de cara com o meu filho: “O que houve pai? Você não tá bem? Se eu puder te ajudar, pode contar comigo. Tem a ver com você ser um bruxo?” Como ele ficou sabendo disso? Perguntei na mesma hora.

E sua resposta foi realmente de uma criança inteligente e observadora: “Pai, o Bruma num é um gato normal. Ele some quando você não está em casa. Eu somei dois mais dois, né?” Respondi como todo pai, que tudo ia ficar bem. Amanhã há esta hora eu teria resolvido tudo, para o meu bem ou para o meu mal.


Estava ciente, se perdesse para o Merlim, teria muitas dificuldades a enfrentar. Seria expulso da Cúpula e deixaria de ser Bruxo. Poderia perder meu emprego. Percebendo os meus receios no tom de voz, o pequeno me abraçou e disse: “Eu te amo papai! E sei, tudo vai dar certo, porque aqui em casa a gente se ama muito!” Admito, eu chorei, por isto não mostrei o rosto.


No quarto, a Cristal estava linda deitada sobre a cama, só de roupas de baixo. Toda a
minha tensão se dissipou diante daquela visão! Eu mergulhei em seus braços e encontrei o conforto que precisava naquele momento! Ela não me questionou apenas me acolheu sem perguntas.


Quando nos deitamos para dormir, minha esposa perguntou: “Você está tenso, meu sol! O que houve? É amanhã o tal duelo, não?” Eu não conseguia mesmo disfarçar... Sempre fui um livro aberto! Então, respondi com a verdade, ela merece isto de mim. E completei com a frase do Di: “Aqui todos nos amamos muito, e no final isto é o mais importante!"


Depois que ela dormiu, eu me levantei, não conseguia dormir com tanta coisa na minha cabeça. Então percebi: a cama era nova, assim como os lençóis, nem vi antes!?


Desci com intenção de tirar algumas dúvidas: Depois de ganhar o duelo com o chefão ele vai simplesmente aceitar a derrocada? Como fazer o cara tomar a poção “bruxaria-já-era”? Nos estatutos havia explicação para tudo, nos artigos sobre os duelos mágicos. Espero que o Chien providencie todos os detalhes, era função dele afinal.


Ainda estava ansioso e resolvi usar minha energia extra para fazer faxina. Como a Cristal não trabalha fora, não tinha muita coisa para limpar. A não ser o fogão e a banheira da nossa suíte. Enquanto a limpava, a imaginei tomando banho ali, hoje antes do jantar...


Num instante voltei para a nossa cama e “sem querer” a acordei... Tivemos uma madrugada bem movimentada e consegui finalmente abandonar as preocupações, nos braços da minha luz.


Acordei em cima da hora para o trabalho e quando voltei só fui em casa trocar de roupa. Sabia que estariam todos me esperando na casa do Olívio. A porta estava aberta, dei de cara com a minha esposa e a Acácia sentadas no sofá. O sorriso delas foi reconfortante.


Olhei para o lado e vi o meu amigo, ao me aproximar ele falou: “ O que está havendo, brow? Você não anda bem, tá distante e preocupado, nem parece meu amigo Forte de sempre!”


Devo estar mesmo uma pilha de nervos. Abracei-o e disse estar com algumas preocupações quanto a Mita. Não deixava de ser verdade. Era muito ruim não poder contar tudo para ele, desabafar... Vencendo este duelo, eu abriria tudo. Sendo o chefão, não teria mais motivos para esconder nada do meu brow!


Fomos lá em cima pegar as crianças, para cantar parabéns. Os pequenos estavam entretidos com os blocos de montar, passatempo predileto do quarteto fantástico. Enquanto os gêmeos estavam em seus berços descansando.


Ao descer, o Heitor se transformou antes mesmo de chegar ao bolo! A Acácia o colocou em cima do balcão para ficar próximo da velinhas durante a cantoria.


Todos nós comemoramos a transformação dele, agitando as matracas e fazendo barulho com as cornetas. O Horácio não foi tão apressado e aguardávamos ansiosos pelo seu crescimento.


Olívio manteve o filho próximo ao bolo, apagou as velinhas por ele e o jogou para o alto. Ficou feliz em ampará-lo logo em seguida. Tive a impressão de que o guri ficou bonito como a mãe. Hehehe


Heitor se manifestou, pensamos ter ouvido algo como “gemu”, mas não era possível o menino nem sabia falar ainda! Não podia estar se referindo ao irmão, deve ter sido apenas uma coincidência. Dei uma boa olhada nele e me lembrou muito o pai.


Como eu previ, o Horácio puxou a Acácia e a irmã! Agora é esperar para ver como dupla vai ficar quando se tornarem crianças.


Depois, foi a hora dos abraços, as princesinhas e os gêmeos começaram a se entender com este gesto adorável. Fico maravilhado com a amizade crescente entre eles. Até me acostumei em ver a Violeta abraçada a outros meninos. Os bebês se reuniram numa dança. Entre balbuciar e vocabulários restritos, estavam se comunicando muito bem.


Enquanto nós fomos requisitados pelos garotos a dançar o hula-hula. Nem pensei que um aniversário em família pudesse ficar tão animado. Porém, as crianças sempre arrumam diversão nas coisas mais singelas, por isto adoro estes pequenos.


Cristal pegou cada um dos meninos no colo. Tinha intenção de manter amizade com os sobrinhos mais novos, desde cedo. E percebi uma nostalgia ao pegar o Horácio no colo.


Em breve seria aniversário da Vi e não teríamos mais nenhum bebê em casa. Neste instante o Klaus entrou me chamando. Era a hora de ir para a reunião. Nem vi o tempo passar!


Cristal deixou o menino apressada e correu para os meus braços antes que eu pudesse sair. Estava apreensiva, percebi logo, sua dificuldade para lidar com tudo aquilo falou mais alto. Sem se conter disse: “Preciso de você, meu sol! Volta para mim inteiro!”


Eu só tinha uma resposta para a minha esposa: dei-lhe um beijo demonstrando todo o meu amor e determinação em voltar inteiro! Eu não poderia decepcioná-la.


Peguei minha princesinha no colo para me despedir. Seu sorriso ficou gravado em meu coração, um alento para esta noite.


Dei um beijo no pequeno, sob os olhares ansiosos da minha esposa. O Di me desejou boa sorte, não sabia o que aconteceria esta noite, mas intuía o quanto eu necessitaria de ajuda. Mesmo a minha tão proclamada sorte poderia não ser o suficiente...


Chegando ao The Lhama Pub, a minha amiga veio direto falar comigo, perguntou como eu estava. Claro, ela sabia de tudo, talvez mais que eu, até mesmo o resultado final desta história toda. A esta altura para mim, é Deus no céu e a Carmita no mundo sim!


Comentei meu nervosismo e ansiedade, nunca fui violento. Posso até em um momento de fúria ou medo ter pensado em acertar alguém. Porém, nunca parti mesmo para a violência, a não ser contra o zumbi da UNESIM. O cara era da paz e relevou meu fiasco como brigão!


Minha amiga apontou para mim e falou sobre o meu poder de fazer tudo dar certo. Bastava parar de pensar e agir de acordo com o meu coração. A violência gratuita é desnecessária, mas precisamos nos defender sempre e proteger os mais fracos. Esta era a minha missão.


Fiquei motivado após esta conversa. Meu coração já havia escolhido acabar com os desmandos do Merlim, ele representava o mal dentro da Cúpula. Se ninguém mais podia, era meu dever lutar contra o chefão e proteger os outros associados.


A Carmita aprovou minha atitude e disse: “Isto mesmo Forte! Todos temos um caminho a seguir nesta vida, o seu está bem claro. Vá e cumpra seu papel na história da Sociedade Secreta. É hora de transformarmos nossa sociedade, promover harmonia e segurança para o mundo sim com os nossos recursos. Acabar com esta confraria de poder e ganância.”


Eu abracei a minha amiga emocionado com suas palavras. Ao ganhar este duelo eu modificaria esta conversa toda de mesquinharias e procuraria utilizar nossos recursos para remodelar todo o mundo sim!


Estava atrasado para a reunião, mas naquele momento, esta era a última das minhas preocupações. Fui ao banheiro e usei o “Magivestigium” para chegar à sala da Cúpula. Estavam todos sentados e a reunião havia começado. Quando olhei para a cabeceira eu fiquei muito irritado. Encarei o cara, sem nenhuma vontade de me sentar àquela mesa. Só desejava fazê-lo sumir naquele mesmo instante!


Ele estava sentado ali como se não tivesse feito nada demais... Conversando como se eu não estivesse de pé prestes a iniciar meu desafio.


Ao perceberem a minha presença, meus amigos da Cúpula se levantaram. Achei até engraçado, o Ado estava todo empolgado para ver "o circo pegar fogo". Chien olhou para mim me incentivando a seguir em frente.


O chefão se levantou sem entender nada, caminhei em sua direção. Era hora de colocar tudo em pratos limpos e disse: Sei quem alimenta a planta-vaca, é você!
Ele tentou negar, dizer não...


Mas não lhe dei tempo. Não havia motivos para adiar mais nada, de acordo com os estatutos da Cúpula eu deveria estapear o cara enquanto dizia as seguintes palavras: Eu o desafio, desejo seu lugar de Grão-Mestre.
E foi exatamente o que eu fiz, lancei meu desafio e agora não tem mais volta!


2 comentários:

  1. Uuhuhuhuhu!!! \õ/
    Forte, chorei com você com as palavras do Di.
    E adorei esse final de atuh!! Claro que você consegue!
    Sou sua fã e estou na torcida!
    Bjuus =*

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  2. Suh, meu filho é muito sensível e consegue sensibilizar todo mundo!
    Eu realmente esperava derrotar o Merlim...
    Obrigado!

    Um Forte abraço!

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